segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Tempos Difíceis

Pensamentos escassos de um indivíduo em choque e sem saber muito bem como organizar essas ideias-lágrimas

Pensamento 1:
Semana difícil, não mais difícil que muitas outras que tivemos. Porém fica mais difícil quando tentamos medir a dor do outro e comparar com a nossa.
Sim, é fato que morre-se diariamente no Brasil o mesmo número de pessoas que morreram em Paris. É fato que há uma semana quase o mesmo número de Palestinos morreram e ninguém deu muita atenção. É fato que a barragem de Minas é, provavelmente, um dos maiores desertas ecológicos do Brasil. Assim como é fato que a Amazônia vive desastres ecológicos diários.
Tudo isso dói, cada um do seu jeito, e cada dor de uma maneira em cada pessoa.

Pensamento 2:
Hoje em tempos de internet, tudo pode e nada sai batido. Quem colocou a bandeira da França, foi xingado. Sim, a bandeira representa o estado francês e ao colocar a bandeira, talvez, estejamos de acordo com as palavras do Holande que diz 'estar em guerra'. Mas a bandeira também pode ter representado a dor daquela pessoa. Isso eu não vou medir. Que hoje é a da França, ano passado foi a do arco-íris. Símbolos.
Por um dia a bandeira da França foi símbolo de dor.

Pensamento 2.1
Estamos em guerra. Quando não estivemos? Quem mora nos Estados Unidos sabe que estamos em guerra há muitos anos. E quem mora no Brasil  sabe que a guerra interna mata mais que a Guerra do Iraque diariamente.
Não estamos em guerra. Nunca deixamos de estar em guerras. Muitas guerras. E entre todas as guerras, a nossa guerra pessoal para saber quem está certo.

Pensamento 2.2
Eu sei que estou certo. Você sabe que está. E ninguém erra.
Porém nessa briga entre o certo e o errado, há um tipo de perdedor: o que não tem voz. O que não tem voz pra declarar guerra. E ninguém quer declarar paz, eu acho.

Pensamento 3:
O francês não é o estado, assim como o judeu não é Israel, assim como o muçulmano não está em guerra com o ocidente. Estados fazem guerra, o povo morre. O soldado, o morador....

Pensamento 4:
Há uma coisa que não podemos deixar nunca de ter: Respeito pela vida. Postar vídeos pregando a morte de outras pessoas. Não. Postar vídeos culpando imigrantes por ataques terroristas, não. Postar algo criticando os mexicanos nos EUA sem pensar que você, brasileiro, neste país é também um imigrante, Não.

Pensamento 5:
Reveja os seus privilégios. Mesmo imigrante, tenho facilidades que muitos não têm. E uma delas é o acesso aos mais variados tipos de informação. Leia, releia e não poste. Respeite o ser humano.

Pensamento 6:
Estou em choque com esse vídeo que vi pregando a morte de outros.

Pensamento 7:
Nós, quase todos que aqui estamos, vamos dormir tranquilos. Sem medo que alguma dessas guerras nos afetem, pelo menos não agora. Alguns ainda estão sob o efeito dos ataques em Paris, Beirute.... Alguns sob os efeitos de alguma bala perdida. Outros sob o medo de uma guerra que terminou há mais de dez anos.

Pensamento 8:
Se você não preza pela vida, repense. Lembre-se daquelas frases sem-sentido que repetimos a torta e a direita. Somos um, A vida vale ouro, blá, blá...

Pensamento 9
Do alto do nosso privilégio, somos capazes de atos insensíveis, preconceituosos e criminosos. Isso é o mais assustador.

Pensamento 10:
Porque enquanto não sou poeta:


Quem cala sobre teu corpo

Consente na tua morte

Talhada a ferro e fogo
Nas profundezas do corte
Que a bala riscou no peito
Quem cala morre contigo
Mais morto que estás agora
Relógio no chão da praça
Batendo, avisando a hora
Que a raiva traçou no tempo
No incêndio repetido
O brilho do teu cabelo


Milton Nascimento


Vou tentar dormir, comer, ler, rezar, meditar, fazer algo porque aqui onde eu estou ainda é dia 16 de novembro de 2015, mais um dia que estivemos em guerra e muitos morreram. Eu, por sorte e por privilégio, não.

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