quarta-feira, 14 de novembro de 2012

E mais uma vez, pedindo paciência...

E entre término de namoro, tese, trabalho, problemas com o meu paycheck, furacão deixo de lado o blog. Se o blog fosse um amor já tinha me abandonado cansado das minhas promessas. Coitado de você, blog. Te trato da maneira que me trataram e você persiste aqui em silêncio... E eu só apareço de vez em quando para falar da minha saudade, da cidade que me deixa sozinho, do trabalho, dos alunos...

Me parece que nos momentos de insônia sento no computador e o blog se escreve. E aqui estou, quase uma da manhã de uma quarta-feira.

Pois entre esse término, essa tese, o meu trabalho, acho que me falta tempo. E nessas horas passa pela minha cabeça, sempre a mesma música, "Paciência" do Lenine e fico fuçando na internet tentando achar o clip original que foi ao ar na MTV há muito tempo atrás e eu nunca mais vi. Nem no site do Lenine, nem na MTV, nem no youtube... o vídeo se perdeu na velocidade da vida que "não para", vida rara....

É que ando naqueles momentos que o "corpo pede um pouco mais de alma", sabe? E essa música acerta em cheio na melodia, no velocidade da voz, na letra. Pois o que me falta é paciência... falta um pouco de vontade.... falta alma....

E eu aqui já no alto dos meus 37,  mais perto dos 40 e longe, bem longe dos 20...

Devo admitir que a verdade é que não posso reclamar de muita coisa (além do frio, neve, cerveja cara e aquelas coisinhas de sempre), tenho uma vida bem legal: Um emprego que adoro, escrevo uma tese que gosto muito (ou melhor, tento escrever), tenho amigos que fazem parte da minha, minha família - irmãs, mãe, sobrinhos, sobrinhas, cunhados, primas, pai presente... - tudo muito gostoso.
E quase não reclamo, a não ser dos dias curtos no inverno... Mas acho que esse ano fazer 37 me bateu uma melancolia - não dessa vez não é saudade, não... é melancolia mesmo.

Há um sentimento engraçado de fazer 37 anos, mas às vezes me sinto como um adolescente, um moleque, principalmente no que diz respeito ao coração. Esse coração que insiste em querer pular da boca. E nesses momentos lembro da MTV de quando ela tinha música e eu passava a tarde assistindo clipes... E hoje em dia me sinto mais tranquilo ao ouvir Blink-182 porque vejo que não sou o único jovem que resiste, às vezes, em crescer. E ser maduro demanda tempo. Ser maduro em muitas coisas. Blink 182 me acalma a alma velha nesse espírito jovem. Mas hoje a vez é do Lenine... porque parece "que tudo pede um pouco mais de calma"

E essas angústias noturnas são, na verdade, vontades diurnas que não se concretizam. Esses últimos dois meses foram estranhos. Terminamos tudo em setembro, em outubro fiz aniversário, em novembro tive reunião com meu orientador.... Tinha que ter entregue o primeiro capítulo pronto, mas não entreguei. Tudo bem, ele entendeu, viu meu trabalho e me acalmou. E assim, recuperei a auto-estima perdida entre as chuvas do furacão e a solidão... E agora a única coisa que me atordoa é o final concretizado. Precisei de dois meses para finalmente entender o processo e colocar uma pedra no assunto. E mais uma vez, a poesia, ironicamente em espanhol:



"...Ahora bien,
si poco a poco dejas de quererme
dejaré de quererte poco a poco..."
Pablo Neruda


E hoje anoiteci com uma multidão de filmes, músicas e poesias na minha cabeça porque, na verdade, essa multitude de coisas quase concretas mascaram uma pequena realidade fictícia: esse iminente final que me atordoou durante esses dois últimos meses.

Minha cabeça tentou dormir borbulhando, nem chegou a acordar, mas levantou cheia. Os sonhos não me deixaram dormir e a vontade de recomeçar me fez antecipar a manhã para tentar ver aonde isso chegaria.

E por causa dessa pequena fatalidade, quase um ano depois, Melancolia de Triers finalmente faz sentido, pois fui dormir com um sol gigante atingindo meu corpo, a diferença que não havia ninguém para me abraçar, não tive tempo de construir uma pequena pirâmide de gravetos e tive que deixar o sol me queimar. E durante os primeiros quinze minutos ocilei entre Justine e Claire, fechando os olhos como John, o primeiro a morrer.

Mas tudo bem, de fato deveríamos ter deixado o sol destruir tudo há muito tempo, quando tínhamos todas as armas na mão, mas insistimos. E por pior que pareça isso tudo agora, pelo menos, tivemos a tranquilidade de deixar-nos sair em paz. Como uma doença terminal. Aos poucos, nos desfizemos da vontade, da verdade e do querer. E deixamos o sorriso amarelo, tímido substituir a lágrima, o grito e a dor.

Há quem prefira o ataque fulminante do coração. Nós insistimos, e foi bom porque passamos os últimos meses ao lado deste corpo-amor morto e fizemos pazes com nossos desejos e deixamos isso tudo que um dia foi amor ir embora e abrimos caminho para algo novo.

Não há mais porque deixar te amar, não há mais porque querer insistir.


I think I've already lost you
I think you're already gone
I think I'm finally scared now
You think I'm weak - but I think you're wrong
I think you're already leaving
Feels like your hand is on the door
I thought this place was an empire
But now I'm relaxed 
Matchbox Twenty


E tudo bem porque, me parece, que já posso recomeçar...

Not as we


Mas tudo tranquilo: eu tenho uma tese, um livro, um blog (que adoraria prometer manter mais atualizado, mas já não faço mais promessas), várias aulas, e uma vontade doida de acordar amanhã afinal,

A vida não para 
A vida é tão rara




domingo, 9 de setembro de 2012

Das férias, da rotina, da saudade (como sempre)...


E eu voltei de férias... E que verão longo! Fiquei três meses fora de Nova York. E não é que deu saudade? Quem diria... a cidade vai crescendo dentro de mim e eu já vou me sentindo em casa aqui. Já nas últimas semanas em São Paulo andava com vontade de voltar, de deitar na minha cama, de ver meus amigos (oh amigos do Brasil, não tenham ciúmes... meu coração é poliamoroso no quesito amizade), de comer no meu dinner, do meu vizinho praticando saxofone depois do almoço, de falar oi para o moço turco das frutas na esquina da minha casa, de ser reconhecido pelo nome no dry cleaning do meu prédio, das velinhas simpáticas da academia, de andar de metrô.... haha... essa é difícil de acreditar, né? Mas depois de três meses fora, nem aquele bafo quente que vem diretamente conectado com o inferno das estações do metrô me incomodaram tanto... Saudades da cervejinha de sexta-feira, da corrida matinal, enfim saudade de viver aqui. E é bom saber que muitas das coisas ainda estavam aqui esperando pela minha volta.

E ao voltar, a vida vai se restabelecendo aos poucos. Três meses é muito tempo... muito tempo... E a primeira providência foi restabelecer meu cheiro no meu apartamento. É impressionante como o cheiro da sua casa muda depois de tanto tempo e ao entrar em casa ficou faltando algo. Estava tudo aqui, a cama, as roupas de cama, o sofá... tudo como deveria ser, mas o cheiro da minha casa havia mudado... havia algo infamiliar nele. Quase uma vingança da minha morada por tão longo abandono. Não poderia me expulsar, me xingar e a única coisa que meu lar pode fazer comigo é não me deixar reconhecer pelo meu cheiro... Funcionou, o primeiro dia foi um misto de infamiliaridade e saudade matada que quase doeu... E para resolver isso precisei de alguns dias. Fui deixando as paredes me contarem seus segredos e eu fui me abrindo aos poucos. Diferente de Amália Rodrigues, de quem eu gosto, até as paredes confesso.... Bem, bem... no primeiro dia recomprei todos os produtos de limpeza de antes, espalhei meu perfume e aos poucos a casa foi voltando a ser minha.

E duas semanas depois já é. Tudo me parece normal. A rotina se acostuma comigo e o meu caos se encaixa no rigoroso horário do ônibus da cidade. As aulas retornam, os alunos voltam, o doutorado pede pressa. Cheguei com um diploma de M. Phil me esperando, e a defesa da minha proposta me esperando... Burocracias cumpridas, papelada do visto resolvida, salário em dia, reembolsos pedidos, documentação feita.... E nessa lista a primeira semana se acaba.

Amigos por perto :) Fofocas choradas, risadas por perto, academia quase em dia, contas pagas, telefone reativado, computador novo comprado, ipad consertado e o primeiro final de semana terminado.

De tudo, de tudo, falta só resolver o meu coração, mas desse eu já me acostumei, ele vai e volta, fica e desaparece como bom malandro que é. E esse meu coração necessita tempo, necessita palavra, diálogo e por enquanto está querendo ficar calado. E talvez esse meu coração machucadinho também faça parte da minha rotina noviorquina.

Bem-vindo a todos de volta à minha vida. Feliz de revê-los e tê-los por perto.

Bom ano para todos.
O meu será, eu sei. O teu, também, eu pressinto.



  • Ah e em tempo (para resolver questões pendentes do ano passado):

Então fica estabelecido que gosto de Nova York, não? Gosto da maneira que consigo gostar das coisas, ou seja, gosto querendo sempre olhar para o lado, gosto abraçando de olho aberto, gosto nunca fechando a porta...
Ok?
E como gosto desse meu jeito "meio estúpido de te amar", há coisas que, boy, oh boy... não dá para entender, não. Por mais que eu tente, eu não consigo gostar de jeito nenhum. Mas essas coisas, normalmente, são uma mistura de nova iorquinos e a cidade. Mas sobre isso eu falo depois. Quem sabe este semestre os textos semanais tão almejados não saem do papel e atingem o computador... Quem sabem.... Como diria Pablo, maybe... maybe...

domingo, 15 de abril de 2012

Hoje não estou para conversa, não...

Hoje deu saudade, nostalgia, vontade de colo de família...
Há três anos aqui e há três anos que tento explicar o que é essa coisa de saudade que dá na gente. É difícil, é como tentar explicar todas as nuances do "whatever" americano... Quer dizer, é muito mais difícil porque mexe com o que tem de mais nosso na gente. É um pouco da nossa história, da nossa vontade, da nossa... da nossa saudade mesmo...
Guimarães Rosa define de uma maneira tão linda e tão simples:

"Saudade é ser, depois de ter".

E eu posso continuar buscando citações de música... Mas porque a gente não consegue entender direito o que é saudade, as pessoas associam com nostalgia, tristeza... mas não é isso, não. Ou melhor, não é só isso. Saudade mexe com a gente de várias maneiras. Saudade, para mim, é uma rede num fim de tarde na praia. Aquele saudade da manhã na praia com o sono do final da tarde e o medo da noite, mas a certeza de mais água salgada na manhã seguinte. Viu como é difícil explicar? Por isso que eu desisto e deixo pros grandes. Guimarães, Chico, Pessoa... Aliás, olha o que o Pessoa disse:

"Saudades, só os portugueses conseguem senti-las bem. Porque têm essa palavra para dizer que as têm."

Saudade, como palavra, só existe na língua portuguesa. Dizem que é uma das dez palavras mais difíceis de se traduzir (http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u398210.shtml), e a própria definição não traz concenso, é como aquela história do galego que nunca sabemos se está subindo ou descendo uma escada (e isso é só uma das muitas coisas que compartilhamos com os galegos - mas sobre o meu amor e morriña galegos falo outro dia). Pois então, a gente não consegue nem definir se é singular ou plural! Pro Guimarães é uma, pro Pessoa são muitas (ou duas...). E sabe o que acho de verdade? É que saudade não precisa de definição, precisa de vontade. Só isso. Tem dia que tenho saudade, tem dia que tenho saudades...

Fico pensando nos meus alunos e quando os cursos acabam.... se algum dia no futuro, eles se lembrarem do curso e derem um sorriso discreto lembrando de alguma coisa engraçada que aconteceu na classe, ou do gosto do pão de queijo que comemos juntos, eles vão saber o que é saudade. E vão ter aprendido muito mais do que a língua. E no dia que eles sentirem saudade de algo que nem eles sabem direito o que é, aí já vão ser mais que fluentes. Serão um de nós... Acho que mais que ensinar a língua, gosto de ensinar a língua dentro da gente. Ensinar que saudade é mais que palavra e que há outras palavras que a gente inventa só para sentir....

E saudade é isso, é vontade, acho... É inventar palavras para sentir... E hoje estou assim, saudadento...
Saudoso porque acho que perdi algo importante ontem, e só o fato de achar já me dá saudade. E quando fico assim, fico calado, no meu cantinho querendo colo e paz porque gosto de sentir saudade.
Gosto dessa saudadezinha de domingo de manhã.

E de tudo sobre a saudade, tem só uma coisa que não gosto... É da saudade desnecessária, saudade porque evitamos falar do que sentimos. E é essa a saudade de hoje. Saudade desnecessária, saudade de uma coisa que podia estar aqui ao meu lado, mas não está.... Essa saudade dói de verdade.
Mas ando pensando que por mais que seja assim, talvez, às vezes, seja preciso ou necessário encarar essa saudade. Quem sabe, essa saudade não engana o orgulho e transforma tudo em vontade...

Bem, acho que é isso. Hoje a saudade bateu... e ficou... ainda bem que ela passa, quer dizer, passar não passa nunca, mas ela se esconde de tempos em tempos até a hora que a gente consegue outra coisa pra sentir saudade.

E termino com Amália Rodrigues, "O fado da saudade":

sexta-feira, 23 de março de 2012

Dia branco e chão de giz

Para ler ouvindo "Chão de giz" com a Elba



Vocês já repararam nos caminhos que fazemos no youtube? Começamos com um vídeo, seguimos para outro, para outro e terminamos em algo que não nos deixa lembrar onde começamos....
Semana passada fui de Elis Regina para Trapalhões, outro dia de Robyn até Luciana Melo. Não tenho ideia de como o youtube "algoritimitiza" nossas seleções. Às vezes acho que é mais simples do que pensamos. Simplesmente, Brasil - Brasil, Suécia - Suécia e assim vai... algo como Pandora que coloca no mesmo grupo qualquer coisa que seja em português (devo admitir que eles estão melhorando...).
Hoje comecei com "Dia Branco" para dar para meus alunos... ah a música pela gramática (ou seria a gramática pela música?). Futuro do subjuntivo, música perfeita, não? Se você vier, pro que der e vier comigo...

Daí segui para Dia "Branco" com a Elba Ramalho. Qual usar? Não minto, não. Adoro a voz da Elba, mas a do Geraldo é mais didática - hahahaha - By the way, os alunos quase dormiram na aula! Achei que fossem gostar. Eles adoraram Milágrimas com a Zélia Duncan (caso estejam curios@s, o tema era imperativo), achei que fossem curtir também :(

Anyway, de "Dia branco" cheguei em Chão de giz com a mesma Elba e fiquei ouvindo a música umas vinte vezes... Já tinha esquecido o tanto que eu adorava essa música. Me lembro de ganhar o cd "Leão do Norte" só por  essa música, que na época, antes do mp3, vivia no repeat no meu carro (sim, ainda tinha carro) e em casa.... Bem, fiquei ouvindo a música e ainda hoje a música segue sendo um dos maiores mistérios para mim... O que sempre me encantou na música foi o primeiro verso, um dos mais lindos da MPB (junto com "a cada milágrimas sai um milagre"):

"Desço dessa solidão..."

Lindo, mas a partir daí, a viagem segue e mais do que o livro-viagem, viagem-livro do Haroldo é uma canção-viagem que a música é canção que é a viagem que é letra (e eu entendo porque não sou poeta), mas vejam isso:



"Prá sempre fui acorrentado
No seu calcanhar"

Lindo, lindo... e agora, anos depois de ouvir pela primeira vez começo a dar conta das imagens e a música começa a fazer sentido... É, Nelson Rodrigues estava certo....

quarta-feira, 7 de março de 2012

Gosto mesmo de NY?

Hoje uma aluna me perguntou se eu "dislike" Nova York... Me disse que tinha visto este blog e que pelo título ficou pensando se eu não gostava de Nova York. Disse para ela o que eu pensava sobre a cidade, e resolvi escrever aqui. Mas aí, pensei "se eu disser que sim ou que não, terei que desativar o blog",  Não?

Bare with me por um segundo... O título do blog é "I think I heart NY" e a ideia era escrever sobre a cidade, sobre minha vida aqui, coisas assim... Não que eu faça isso, pois eu quase nunca publico (apesar de ter muitos posts começados - hoje mesmo eu contei mais de vinte posts que nunca terminei), portanto eu poderia responder a pergunta dela e fechar o blog. Assunto encerrado: Sim, gosto. Não, não gosto...

Pensei, pensei, e resolvi dar mais uma chance para este blog. Portanto, não posso dizer ainda se gosto ou não gosto, mesmo porque eu nem sei se tenho uma resposta pronta para a tal pergunta e talvez nunca tenha. Aliás seria bem legal nunca respondê-la. Deixar essa aluna pensando, criar quase um seriado em que nunca saberemos se eu realmente gosto ou não. Um jeitinho brasileiro meu de tentar fugir do assunto...

Não responder talvez seja meu jeito de não ter que lidar com o assunto, com a volta, com a vontade de ficar (oops, será que é uma dica?), com a vontade de nunca mais ter que dirigir (outra dica?)...

Uma coisa que posso dizer, com toda a segurança, sou feliz. Sou feliz como não tenho sido há muito tempo. Tenho tudo que preciso e descobri que preciso de muito menos do que eu tinha antes e isso é felicidade. Sigo escrevendo, sigo tentando e quanto a gostar ou não, por agora o que me vale é a viagem, é o eterno começo... E sem terminar nada, deixo mais uma dica:

"... um livro onde tudo seja não esteja seja um umbigodomundolivro
um umbigodomundolivro um livro de viagem onde a viagem seja o livro
o ser do livro é a viagem por isso começo pois a viagem é o começo
e volto e revolto pois na volta recomeço reconheço remeço um livro..." - Haroldo de Campos