domingo, 15 de abril de 2012

Hoje não estou para conversa, não...

Hoje deu saudade, nostalgia, vontade de colo de família...
Há três anos aqui e há três anos que tento explicar o que é essa coisa de saudade que dá na gente. É difícil, é como tentar explicar todas as nuances do "whatever" americano... Quer dizer, é muito mais difícil porque mexe com o que tem de mais nosso na gente. É um pouco da nossa história, da nossa vontade, da nossa... da nossa saudade mesmo...
Guimarães Rosa define de uma maneira tão linda e tão simples:

"Saudade é ser, depois de ter".

E eu posso continuar buscando citações de música... Mas porque a gente não consegue entender direito o que é saudade, as pessoas associam com nostalgia, tristeza... mas não é isso, não. Ou melhor, não é só isso. Saudade mexe com a gente de várias maneiras. Saudade, para mim, é uma rede num fim de tarde na praia. Aquele saudade da manhã na praia com o sono do final da tarde e o medo da noite, mas a certeza de mais água salgada na manhã seguinte. Viu como é difícil explicar? Por isso que eu desisto e deixo pros grandes. Guimarães, Chico, Pessoa... Aliás, olha o que o Pessoa disse:

"Saudades, só os portugueses conseguem senti-las bem. Porque têm essa palavra para dizer que as têm."

Saudade, como palavra, só existe na língua portuguesa. Dizem que é uma das dez palavras mais difíceis de se traduzir (http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u398210.shtml), e a própria definição não traz concenso, é como aquela história do galego que nunca sabemos se está subindo ou descendo uma escada (e isso é só uma das muitas coisas que compartilhamos com os galegos - mas sobre o meu amor e morriña galegos falo outro dia). Pois então, a gente não consegue nem definir se é singular ou plural! Pro Guimarães é uma, pro Pessoa são muitas (ou duas...). E sabe o que acho de verdade? É que saudade não precisa de definição, precisa de vontade. Só isso. Tem dia que tenho saudade, tem dia que tenho saudades...

Fico pensando nos meus alunos e quando os cursos acabam.... se algum dia no futuro, eles se lembrarem do curso e derem um sorriso discreto lembrando de alguma coisa engraçada que aconteceu na classe, ou do gosto do pão de queijo que comemos juntos, eles vão saber o que é saudade. E vão ter aprendido muito mais do que a língua. E no dia que eles sentirem saudade de algo que nem eles sabem direito o que é, aí já vão ser mais que fluentes. Serão um de nós... Acho que mais que ensinar a língua, gosto de ensinar a língua dentro da gente. Ensinar que saudade é mais que palavra e que há outras palavras que a gente inventa só para sentir....

E saudade é isso, é vontade, acho... É inventar palavras para sentir... E hoje estou assim, saudadento...
Saudoso porque acho que perdi algo importante ontem, e só o fato de achar já me dá saudade. E quando fico assim, fico calado, no meu cantinho querendo colo e paz porque gosto de sentir saudade.
Gosto dessa saudadezinha de domingo de manhã.

E de tudo sobre a saudade, tem só uma coisa que não gosto... É da saudade desnecessária, saudade porque evitamos falar do que sentimos. E é essa a saudade de hoje. Saudade desnecessária, saudade de uma coisa que podia estar aqui ao meu lado, mas não está.... Essa saudade dói de verdade.
Mas ando pensando que por mais que seja assim, talvez, às vezes, seja preciso ou necessário encarar essa saudade. Quem sabe, essa saudade não engana o orgulho e transforma tudo em vontade...

Bem, acho que é isso. Hoje a saudade bateu... e ficou... ainda bem que ela passa, quer dizer, passar não passa nunca, mas ela se esconde de tempos em tempos até a hora que a gente consegue outra coisa pra sentir saudade.

E termino com Amália Rodrigues, "O fado da saudade":

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