Nova York é de
todos, mas é para poucos.
Nova York é
fantasia, é filme, é cena de televisão. É café em cada esquina, não é violenta,
é segura. As pessoas andam, o metrô funciona, as lojas estão abertas aos
domingos. Os restaurantes não são caros. Come-se bem, vive-se bem, sonha-se
melhor ainda....
.... porque Nova
York, quando é real, não sobra muito. Não te deixa ficar doente, não te deixa
parar. Mas ao mesmo tempo te deixa ser enquanto se está mal.
Nova York está
aberta para todos, mas poucos vivem
Nova York é
Manhattan, é a pontinha do Brooklyn agora que investidores resolveram ganham
dinheiro nas bordas dos rios. Nova York é pequena, é chique, é elegante.
Até o momento em
que você vê mulheres andando de salto alto, até o momento que você precisa
pegar o metrô às seis da manhã para trabalhar ou ficar esperando o metrô às
quatro da manhã porque o táxi se recusa a ir até a sua casa.
Nova York é uma imensidão
de coisas que foge dos olhos.
Nova York se
divide entre os que podem tudo e os que servem aos poucos que decidem.
Há aqueles que
advogam por uma Nova York mais igualitária, há os que acham que o dinheiro
manda e que a vida é assim mesmo. Há os que trabalham, há os que simplesmente
têm dinheiro.
Em Nova York se
paga 5 dólares por uma boa comida. E entre milhões de refeições de cinco
dólares, há gente que paga 500 dólares por um prato, não come tudo e joga fora
o que sobrou. Há gente que ajuda, há gente que atrapalha, gente que finge que
ajuda e gente que adota cachorro de três patas.
Nova York é
vaidosa. O feio é bonito, o bonito incomoda o antigo. O novo destrói o seu
redor. Parques saem do chão, ajudam a sentir a desigualdade nos primeiros meses
antes que a grana destrua tudo ao redor. Tudo fica de vidro, transparente. A
rua é de todos, mas o vidro é dos que pagam a tarifa.
A gente caminha
na sombra porque o vidro, ainda que transparente, consegue tapar o sol. Aqui o
sol é de poucos. A rua, de todos. Desde que você siga as normas e expectativas
do que se espera dos que podem caminhar livremente.
Todos andam,
muitos são parados. Sem motivo. Nova York é abandono do Roberto Carlos. Nova
York dói nos que se deixam sentir. Mas te faz gozar quando os que doem te fazem
sentir.
Há gente que
advogue por uma Nova York secreta, aquele em que vivemos, longe dos grandes
salários. Nova York é boa porque há espaço para todos, me parece. Nova York é “nem
luxo, nem lixo”. É a minha vida, fora do centro, trabalhando no centro,
procurando teatro nas laterais.
Dá para ser feliz
aqui. Se você sabe amar o que está no meio.
Nova York, me
parece, é ideal para quem sabe amar o que não é óbvio. E para quem sabe deixar o
óbvio surgir sem vergonha. A cidade não dói, te faz doer. Mas para quem sabe
dizer ‘fuck you’ na hora certa.
Muita gente deixa
Nova York, outros insistem, mas todo mundo tem vontade de sumir de vez.
Acho que a Rita Lee estava
em Nova York quando escreveu “Shangrilá”.
Em muitos momentos me pareceu estar lendo sobre SP...
ResponderExcluirPois é.... quando eu reli, pensei no mesmo. Este texto foi uma colagem do meu caderninho de metrô.
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