Outro dia
me disseram que passaporte brasileiro valia muito dinheiro no mercado negro. A
razão que me deram foi o fato de o brasileiro não ter um tipo físico muito
aparente ou específico. Vamos de oriental, branco, negro (apesar da gente querer insistir que a Gisele Bundchen é o nosso padrão...)
Verdade.
Mentira...
Há algo de brasileiro na gente que nos molda. Há um jeito, um olhar, uma cara. E nesses últimos anos nos Estados Unidos, eu adquiri um super-poder de
super-herói americano. Adquiri uma visão além-do-alcance para brasileiros em
Nova York. Visão essa que foi se aprimorando com o tempo, pois agora detecto os
que moram aqui e os que estão visitando. Nunca falha, ou pelo menos, ainda não falhou. Vejo de longe e recebo suas energias orgônicas e acerto. Hoje de manhã, eu detectei vários.
Brasileiros
têm várias características comuns. Apesar da "diversidade" que os ladrões de passaporte gostam de ressaltar, nós temos uma cara, ou melhor, um jeito. As mulheres têm um cabelo muito parecido (acho que já falei disso aqui) e é verdade, há um corte típico que mesmo diferente, é parecido. E os homens têm uma carinha semelhante. A maneira de segurar o iphone, a maneira de tirar foto. Acho que é o olhar, com a linguagem corporal. Fora de casa, fica mais fácil observar, como em um apocalipse zumbi, com o tempo você passa a diferenciar de longe o que é zumbi e o que é gente.
Mas há uma característica muito comum no exterior entre nós: A mania de que querer ser
local. Brasileiro não pede informação, não anda com mapa na mão – algo que
quase todos os turistas fazem em Nova York. Brasileiro procura endereço discretamente. Não pergunta.
E outra coisa mais forte ainda que nos marca: Brasileiro
fala baixo, diferentemente dos italianos, franceses e dos espanhóis. Fora do Brasil, brasileiro fala baixo,
morre de vergonha que percebam que eles não são locais ou que não falam a
língua local. Fora do Brasil, falamos baixo, que fique claro... Há uma vergonha de falar português.
E a coisa mais engraçada que já vi muitas vezes e presenciei. Brasileiros quando veem outros grupos de brasileiros se silenciam. Param de falar. Não querem ser reconhecidos. Faça o teste, entre em uma loja de descontos, tipo Century 21, e ande pelos corredores falando português. Ao nos encontrarmos, paramos de falar, olhamos com vergonha, com um sorriso de vontade de se conhecer, mas ficamos tímidos. No fundo, somos tímidos.
Sempre que saia com a Fran, minha companheira de caminhadas, compras e tudo o mais na cidade, não havia uma vez que não percebíamos o silêncio-reconhecedor dos brasileiros em Nova York.
O fato mais interessante é que em Nova
York ninguém fala inglês. No metrô, na rua... não houve até hoje, e pode
acreditar, um dia em que saí de casa e no meu caminho até o metrô não ouvi
alguém falando uma língua diferente do inglês. Todos falam alguma outra língua.
Além do espanhol, há o francês, árabe, hindi, sérvio, russo, criolo francês... menos o
português. Português não se fala nas ruas de Nova York, se sussurra. A nossa
língua é pouco ouvida, há que se ter audição além-do-alcance. Eu não tenho, mas
tenho a minha super-visão. E mesmo em silêncio eu detecto esse grupo.
Quantas vezes eu não vi uma família e me ofereci para tirar foto e eles se envergonharam... "Ah, nossa... não precisa, não". Fora do Brasil que a gente se vira mesmo. Enquanto em casa, a gente gosta dos serviços prestados por terceiros, fora do Brasil, a gente se vira, até para tirar foto.
No começo,
eu procurava ajudar, agora, ignoro, observo e os deixo perdidos. Bem, já dei
informação errada, sim. Porque não suporto menininha com cara de cocô com o
namorado com cara de quem come cocô fingindo que não precisa de ajuda. E assumo, já mandei gente pro lado oposto só de birra....
Esses dias que ainda estou de férias tenho exercido minha visão brasileira além-do-alcance. Estamos em todos os lugares, mas em silêncio. Hoje eu peguei meu celular e fingi falar com em português. Passei por dois casais e ao chegar perto, eles ouviram minha voz e pararam de falar.
Por que fazemos isso??????
Não sei. Só sei que gosto de caçar brasileiros pelas ruas da cidade. Cuidado que um dia eu te acho!
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