Perdemos no
nível federal, no nível estadual, e no nível municipal (pelo menos em São
Paulo). E perdemos por falta de informação, falta de discussão e mais uma vez,
pelo excelente trabalho da mídia conservadora e religiosa em distorcer palavras
criando logotipos de fácil assimilação que não dizem nada, apenas propagam preconceito. E muitos compram essas ideias.
A principal
e mais ridícula que se tem notícia é a tal da ditadura gay... conceito que
ninguém consegue definir, mas adora reproduzir. Preconceitos estúpidos como,
‘não tenho nada contra, mas não quero meu filho aprendendo a ser gay’... E a
lista adianta.
Ditadura se aproxima de doutrina e se formos falar de doutrina, são as religiões que impõem doutrinas, não? Não há uma ditadura gay, nunca existiu e não há maneira de existir tal coisa.
Ditadura se aproxima de doutrina e se formos falar de doutrina, são as religiões que impõem doutrinas, não? Não há uma ditadura gay, nunca existiu e não há maneira de existir tal coisa.
A inclusão
do debate de gênero nas escolas vai muito além da questão sexual, procuraria
mostrar que vivemos em uma sociedade desigual em que mulheres não têm os mesmos
privilégios que homens e que tais questões passam por tópicos como raça, classe
social e muitos outros. Quando digo que perdemos, todos perdemos. Pequenas e grandes agressões vão além da causa LGBT, interferem na convivência humana. Essa obsessão crescente com a sexualidade (ou melhor, contra a sexualidade) já atingiu níveis de intolerância criminosa. Sexualidade não é sexo!
Há pessoas
que dizem que não é preciso discutir "essas coisas"... Sim, é preciso! Precisamos entender
quem e como somos e que há possibilidade de reverter pontos de desigualdade. A
escola é parte da sociedade, e como membro ativo da nossa coletividade reflete
tais práticas. Desde o menino que não quer jogar futebol até a menina que é
excelente em matemática. Vejam que não estou falando de questões de orientação
sexual, simplesmente em questões de práticas sociais que ainda hoje sofremos
pressão.
Mais
exemplos: o menino precisa ser agressivo, precisa se defender. A menina precisa
falar baixo, não pode correr. Parece manual dos anos 50, mais ainda se reflete
nas escolas. E isso interfere na vida adulta. A Carta
Capital publicou um bom texto discorre sobre como a ciência tem mostrado tais efeitos na vida adulta, porém apesar de sermos um estado laico, a religião ainda define os parâmetros escolares. A sala de aula, a escola e a sociedade precisam ser espaços que garantam a igualdade de gênero para todos.
O debate
sobre questões de gênero vai além da questão LGBT. Tal discussão é fundamental
para todos. Ainda vivemos em uma sociedade extremamente machista. Desde cedo
meninos precisam provar que são homens e meninas precisam entender que são e
serão “apenas” mulheres.
Tal debate
na escola procuraria diminuir a opressão, mostrar que a igualdade
de gênero traz avanços a qualquer sociedade nos mais diversos quesitos. Faz
com que entendamos a importância do respeito ao ser humano na sua mais
importante habilidade: a vontade de ser alguém.
A escola
que se cala, e um país que também se cala frente a essas discussões assume a culpa da
grande evasão escolar que temos hoje em dia e também por manter a desigualdade
social em níveis alarmantes. Por exemplo, uma sociedade em que a mulher ainda ganha menos e que acesso à saúde é precário para citar apenas dois exemplos.
Parece que estou batendo na mesma tecla. E sim, estou. Se o governo segue cedendo aos políticos com agendas religiosas em um estado laico, é preciso vozes e mais vozes que garantam tais discussões. Eu fui silenciado durante muitos anos na escola. Fui xingado porque não jogava futebol, convivi com muitos amigos heterossexuais que também não jogavam futebol e também eram xingados. Como eu disse, não é sobre orientação sexual, é sobre respeito ao ser humano.
Se não há discussão oficial, que haja paralela. Que mais e mais professores, alunos, pais e cidadãos procurem saber sobre o assunto sem se limitarem a palavras-chaves reducionistas. A maneira mais simples de se respeitar, é entender e para entender algo é preciso aprender - na escola e fora dela.
P.S:
Foto do site da Folha: Cotidiano, 25/08/2015 |
Enquanto acompanhava pelos jornais a votação em São Paulo uma das cenas mais marcantes foi a de uma freira rezando pedindo a exclusão do 'gênero'. Uma mulher, freira, religiosa rezando pela sua própria discriminação, não como freira, mas como mulher.