De que te serve ser um menino se vais crescer e tornar-te um homem?
Gertrude Stein
Os dois últimos meses foram bem intensos e cheios de novidades. Entre elas, eu tive a chance de participar do Chá dos 5 (a página oficial no facebook deles aqui). Eu venho acompanhando os vídeos deles há uns meses e fiquei super feliz de poder falar das minhas inquietações com o Marcell, Rafael, Renato e Thiago.
Durante o programa, falamos de várias coisas como a importância de se discutir identidade e orientação sexuais na escola; sobre a não menos importante ideia de que os professores precisam saber sobre o assunto, e entre outros tantos assuntos, mencionei a ideia de efeminofobia.
O termo tem aparecido bastante em artigos acadêmicos em inglês (effeminophobia) discutindo a ideia de que temos um pavor em relação aos rapazes efeminados. Entre tantos textos há dois que são particularmente importantes por irem além do academicismo e tratarem de tais temas de maneira tão 'delicada'. O primeiro é do Giancarlo Cornejo e se chama "La guerra declarada contra el niño afeminado: Una autoetnografia queer". E o outro é de Eve Segdwick e se chama "How to bring your kids up gay". A tradução literal do termo indica fobia a efeminados e procura mostrar esse horror que se sente em relação à efeminação.
Tal 'pavor' existe mesmo dentro da própria comunidade LGBT. Afinal, quantas vezes não ouvimos coisas do tipo "ser gay, tudo bem, mas não precisa desmunhecar, né?", "não gosto de veado, gosto de homem de verdade", "ele é tão bonitinho, pena que é feminino" e a lista vai, poderíamos seguir com tal discussão por muito tempo e muitos de nós temos exemplos semelhantes. Sem contar na quantidade de gays que não conseguem se olhar no espelho e perceber a própria feminilidade (seja lá o que for essa tal marca feminina ou masculina...).
Eu me lembro quando um conhecido em São Paulo me disse que preferia não sentar na mesa de um 'certo' grupo de pessoas porque eram muito bichas.... Eu perguntei se ele já tinha se questionado quantas vezes alguém não teria falado a mesma coisa dele, só que pelas costas como ele estava fazendo naquele momento. Antes de sair do bar, ele me disse, vai lá você se contaminar com essa gente'. Sim, contaminar.... Efeminação é, além de tudo, contagiosa.
Ainda no campo da memória, para mim, como professor, o exemplo mais marcante foi quando ouvi da coordenadora de uma escola onde eu trabalhava que ela gostava muito do Prof. X, mas achava que ele era feminino demais para dar aula para crianças ou para os mais velhos do ensino médio. Na época, como em muitas outras vezes, me silenciei. Não tive coragem de reagir a tamanho preconceito.
Preconceito? Sim, preconceito. Muitas pessoas, LGBT inclusive, ainda insistem numa tal ideia de masculinidade para homens ou feminilidade para as mulheres. Insistem que o problema não é ser gay, mas ser muito espalhafatoso ou outros eufemismos que usamos para mascarar o nosso preconceito. Pois eu pergunto, qual é o problema em ser efeminado? Qual o problema em ser 'mulherzinha'?
A(s) resposta(s) para tais questionamentos nos obrigam a voltar a pensar na mulher e de que como a ideia de feminilidade é vista como algo menor, algo sem valor. Tal preconceito esbarra numa ideia pré-concebida do que seja ser mulher, ou feminino/a. Feminismo, alguém?
É fundamental que a gente comece a perceber nossos próprios preconceitos e tentar entender porque o feminino nos incomoda tanto. E há tanto tempo. É preciso perder a vergonha que se sente ao andar ao lado de um rapaz feminino e tentar entender porque isso nos incomoda. Será mesmo que com andamos nos define?
A efeminofobia é um problema sério, um preconceito gravíssimo que gera situações opressivas a crianças que, muitas vezes, ainda nem estão questionando a suas sexualidades. Gera opressão a adolescentes que se sentem isolados em seu espaço escolar (o local onde normalmente passam a maior parte de sua adolescência). Oprime a adultos em seus ambientes de trabalho,e em suas vidas de maneira geral. A efeminofobia não é só em relação aos rapazes efeminados. Esse pavor/ medo é em relação aos nossos próprios desejos. E, por isso, é fundamental que encontremos maneiras de entender nossos preconceitos e tentar mudar a forma como lidamos com todos aqueles que não respondem à ansiedade social de ser homem, ou de ser mulher. Afinal, quem é que responde de maneira tão 'correta' a tal modelo?
Vamos voltar um pouco no tempo e terminar dançando a nossa feminilidade/ masculinidade e tentar vencer nossos próprios preconceitos?
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