Acho
estranho falar de gente famosa usando só o primeiro nome como se fosse íntimo,
acho mais estranho ainda chamar alguém de amigo quando você só viu a pessoa uma
vez ou pior, nos dias de hoje, quando você nunca viu.
Acho brega
dizer que adora o Caê, o Gil, a Gal, para mim eles são o Caetano Veloso, o
Gilberto Gil e a Gal Costa, nunca os vi, e não sei se eles me dariam permissão
para chamar pelos apelidos.
Eu me
lembro de um dia que estava num restaurante e um amigo disse, “olha, o gianni
está aqui”, eu entendi Jean e perguntei quem era, meu amigo, bravo, muito bravo
me chamou de arrogante e disse que eu era um besta que adorava novela e fingia
que não sabia quem era o Reinaldo. “Que Reinaldo?” Meu amigo nunca entendeu que
não é arrogância, é vergonha mesmo. Para mim, aquela pessoa é o Reinaldo
Giannechini, ator de novelas (que, sim, adoro assistir). Ele no restaurante é
um pessoa que eu não conheço.
Eu também
não sei se famosos são vaidosos ou não, portanto não me dirijo a eles como se
fossem íntimos dizendo que adoro o trabalho deles. Não sei quem são. Eu conheço
a obra. Há uns que gostam de serem reconhecidos, mas com o risco de
passar vergonha prefiro manter-me na minha arrogância usual. Sei lá... a
gente mede os outros pelo nosso metro, não? Eu detesto intimidade com gente que
não conheço, me arrepia o cabelo quem me chama de “Ju” sem me conhecer direito,
pois então parto do princípio que pessoas conhecidas não querem falar com
estranhos no meio da rua, não?
Também, sempre
acho ridículo essas pessoas que choram, que gritam, que saem correndo, que
fazem de tudo por gente que não conhecem. Eu choro com livro, filme, com obra, mas nunca com o artista. Acho meio problemático, na verdade. Mas aí, tem
aqueles momentos que a gente tem que fingir que não chora....
Hoje morreu
a Vange Leonel. Na minha adolescência cool eu adorava suas músicas, e adorava
citar “Esse mundo” como uma música super gay. Li seus livros, e acompanhei a
sua coluna na folha. E resolvi citá-la na minha tese ao falar de literatura
lésbica (perdoem a simplificação, não é hora de teoria, é hora de choro
disfarçado). Fiquei meio triste porque é uma pessoa que admirava muito. Quer
dizer, uma artista, porque como pessoa não sei quase nada dela. Não é minha
amiga, não é a Van... é a Vange Leonel.
E, no meio
desses pensamentos, eu tive que voltar para a tese e mudar os verbos “She
is...” para “she was...”, e dá aquele aperto na garganta.... mas tão cedo. A gente
só chora quando a Globo coloca música triste, quando faz reencontro, mas assim
do nada, de gente que não conhecemos, me parece estranho. É pela obra,
talvez....
Essa é a
coisa de tese que lida com gente viva, de repente, no meio da tese, antes da
defesa, ela morre. Nem deu tempo de mandar para ela o trabalho pronto e dizer
para ela, “Olha, Vange Leonel, você virou citação! Não é o máximo? Sei lá, eu acho o máximo, sonho de todo intelectual é virar citação!” Fica para
próxima.
Eu não me
arrependo de nunca ter falado com ela, de não ter foto para postar, dizendo, “saudades,
grande”, “perdemos uma grande...”, ou algo assim. Essas manifestações públicas
eu acho brega... o meu texto, não....
Ela ainda é
Vange Leonel, eu não adorava a Vange, eu respeitava a Vange Leonel que morreu
rápido demais para deixar uma obra mais consistente, maior, para termos mais
coisas para ler.
O trem
partiu, Vange Leonel. Boa viagem! Eu, desse lado do trem, vou tentar continuar brigando um pouco
pelos nossos direitos e pode deixar que será em plena luz do dia!
Você viu o que a Ana tava usando ontem?
ResponderExcluirQue Ana?
A Ana Maria Braga, ué! ...
Esse diálogo eu tive, outro dia, com uma moça de 28 anos e, entre um estranhamento e uma risada perplexa, fiquei pensando na incrível intimidade que a mídia pode causar em um (um milhão???) espectador mais, digamos, desarmado. Sem falar na intimidade minimamente mal-educada de alguns comentaristas da Copa, dizendo: Hoje estão no estádio a Dilma, a Angela Merkel, o Blatter. ... Péra aí!!!
Seu post me dá vontade de saber mais sobre a Vange Leonel, Maria Evangelina, informa o Portal G1, que termina a matéria lindamente, como seu final lindo, João, citando a ex-companheira da cantora:
"Cilmara escreveu em seu perfil no Twitter que Vange estava com "um seríssimo problema de saúde". "Peçam aos deuses, deusas, toquem tambores ou o que como o bem entenderem. Estou vivendo o pior momento da minha vida. E não. Não posso responder perguntas porque minhas mãos estão ocupadas com as dela. Um sentimento que deixa partir tendo a certeza da liberdade do amor", comentou Cilmara, em sequência de tuítes."
14/07/2014 19h39 - Atualizado em 14/07/2014 20h22
"Cantora Vange Leonel morre em SP"
Acho que o que me emocionou foi esse trecho "minhas mãos estão ocupadas com as dela". Pensar que não dá para escrever porque suas mãos estão ocupadas assim...
ExcluirVocê tem razão é uma sensação de intimidade criada mesmo, para vender produto - seja gente ou objeto!
Lindo demais... lindo e triste, né, João?!!!
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