Hoje recebi um email de um amigo com um link para uma coluna da Folha sobre homossexuais e o armário (Coluna do Alexandre Vidal Porto). Em tempos de facebook, Twitter e tantas outras mídias sociais receber tal coluna por email me fez pensar... por que não postar no facebook tal texto? As pessoas colocam de um tudo no facebook hoje em dia: fotos de viagem, comentários esdrúxulos, horóscopo (fiz isso hoje)... mas me parece que quando a questão é sobre a nossa sexualidade, o silêncio se mantém, mesmo que não seja algo pessoal, pois ainda existe o medo de associação direta ou indireta. Aquele velho medo de adolescente de que as pessoas possam pensar que somos gays porque gostamos da Madonna, ou da Lady Gaga para os mais jovens.
Ironicamente, a coluna fala justamente sobre a importância de sairmos da armário para que as pessoas possam ver mais gays, bichas, veados, homossexuais, entendidos, lésbicas, sapatões..... Visibilidade é fundamental para que as pessoas não achem que ser gay é simplesmente uma questão pessoal que não deva ser vista ou publicada ou como diz o Alexandre Vidal Porto na coluna melhor do que eu poderia tentar dizer "Que não é preciso ser triste, irresponsável e fracassado para ser gay, que não há nada de feio ou indigno na expressão de seu amor."
E o texto vindo por email e não em uma mídia social me trouxe a seguinte pergunta: Qual é a imagem que devemos "publicar" para os outros? A de que não há problema em se falar sobre isso tranquilamente ou a de que para se ter sucesso na vida é preciso ficar no armário? Hoje penso bastante sobre isso e em todos os anos em que me mantive em silêncio por medo de perder meu emprego ou de ter comentários negativos dos pais dos alunos, dos alunos ou de outros colegas de trabalho, sem falar da família. Afinal, ao ficarmos no armário, a imagem que mostramos a todos é a de que existe uma relação sucesso-armário, ou seja, se ficamos no armário garantimos mais sucesso. Pois somos bons professor@s, médic@s, dentist@s, advogad@s, ator@s, mas ao silenciarmos sobre nossa orientação sexual, a conclusão que passamos é simples: "Fiquem no armário, é melhor assim".
É justamente isso que quero lutar contra. Quero superar esses anos de silêncio falando abertamente sobre o que sou e como sou e mostrar que não há motivo para mantermos o silêncio. E se há, esses motivos precisam ser combatidos. Não há porque não falarmos que somos o que somos, é preciso superar a nossa vergonha pessoal, o nosso medo e deixar que as pessoas vejam que a nossa orientação sexual não influencia em nada no nosso sucesso, na nossa vida profissional.
Penso nos professores que ficam no armário achando que os alunos não sabem de nada (o primeiro post eu falei sobre a mentira que vivemos achando que as pessoas não sabem que somos...). E hoje penso que professor@s, médic@s, dentist@s, advogad@s, ator@s, etc precisam falar abertamente sobre isso para que os jovens possam ver que a possibilidade de sermos gays abertamente é viável. Não é preciso dizer "it gets better", é preciso dizer já está melhor ("It gets better" é uma campanha americana para os jovens em que várias personalidades gravaram vídeos dizendo aos jovens que tudo melhorará (http://www.itgetsbetter.org).
O texto do Alexandre Vidal é justamente sobre isso, Daniela Mercury é um grande exemplo para nós e como ela é preciso de mais e mais pessoas, em vários setores da nossa vida. Um artista ajuda muito, mas um/a professor/a, um/a médico/a, um/a vizinho/a, um/a amigo/a ajudam muito mais porque traz proximidade para a realidade das coisas. Não basta olhar para a TV, é preciso olhar para os lados e ver que a vida fora do armário é muito mais simples do que imaginamos, é mais honesta, é mais bonita.
Em inglês, in Portuguese... Um pouco de tudo. I've always thought I'd live in NYC, and voilá, here I am. The truth is... Não sei se gosto, se detesto, se suporto, se adoro, or if I am too scared to say it aloud how much I love it... The truth is that I get more and more at home in NY, but I also do miss São Paulo and only one word can explain it: Saudade... Pois como bom brasileiro que sou, I carry Saudade onde quer que vá. E junte a tudo isso, Libra com ascendente em Libra e lua em Leão...
sábado, 13 de abril de 2013
quarta-feira, 3 de abril de 2013
Uruguay, Rutgers, Daniela Mercury....
Hoje é um daqueles dias que a mídia está "on fire". No que diz respeito aos assuntos caros aos LGBTQ pelo menos.
Ontem fui dormir assistindo ao escândalo mais recente nas universidade americanas (sim, que surpresa, um escândalo...). O técnico do time de basquete da universidade Rutgers em New Jersey foi visto em câmera agredindo fisicamente e usando ataques verbais homofóbicos contra os jogadores do time1.
Já na cama fiquei pensando na punição do técnico, até ontem à noite ele havia sido apenas suspenso por três jogos. Foi impossível não fazer uma comparação e pensar se a punição teria sido a mesma se os ataques verbais tivessem sido raciais e não homofóbicos... Talvez sim, mas o que eu ainda vejo hoje em dia é uma certa permissividade em relação à homofobia. O preconceito racial, apesar de ainda estar longe de ser resolvido, está sendo silenciado através de leis, educação, ações afirmativas... A homofobia ainda não.
Longe de mim querer comparar anos de opressão negra, escravidão, humilhação com a questão homossexual. Mesmo porque, muitos gays se mantém no armário pelo simples fato de poderem manter o status de homem branco no poder (poderia explicar isso com uma música do Caetano, "Americanos"). E por mais opressor que tenha sido e ainda é, muitos gays e lésbicas optaram por simplesmente esconder sua orientação silenciando-se, prática que minorias raciais nunca tiveram como opção. Mas apesar de tais diferenças, acho que há uma pequena possibilidade de comparação aqui: as questões relacionadas às leis e de que maneira tais leis podem ajudar a diminuir a homofobia.
Leis anti-homofobia são fundamentais para que exista uma sociedade mais igualitária. Enquanto acharmos que chamar alguém de gay, veado, sapatão, bicha não tem problema (e não deveria haver problema em alguém ser chamado de veado, o uso de tais palavras como ofensivas é que é o verdadeiro problema) e enquanto tais práticas continuarem a existir nas escolas, nas universidades, nas ruas, ficará mais difícil para que as pessoas se sintam confortáveis para sair do armário e dessa maneira, seguiremos vivendo essa falsa segurança no armário.
Em tempo: hoje na hora do almoço, a universidade liberou uma nota dizendo que após longa consideração havia decidido despedir o técnico.
Precisamos de mais Danielas Mercurys, não só por sair do armário, mas por ser inclusiva, diversa e positiva, menos Bolsonaros, Felicianos, Malafias.... Esses últimos precisam ser neutralizados (eu queria é dizer, silenciados) e para isso precisamos de mais vozes inclusivas.
Ah, sobre o Uruguay. Casamento igualitário aprovado!
1. Nota de rodapé: Basquete e futebol americano têm times universitários que jogam todos os anos em campeonatos nacionais, a importância deles aqui é quase como a de um Brasileirão ou dos campeonatos estaduais. Os jogos passam na TV, são notícia diariamente, não querer acompanhar esses esportes aqui é quase como querer fingir que futebol não existe no Brasil.
Ontem fui dormir assistindo ao escândalo mais recente nas universidade americanas (sim, que surpresa, um escândalo...). O técnico do time de basquete da universidade Rutgers em New Jersey foi visto em câmera agredindo fisicamente e usando ataques verbais homofóbicos contra os jogadores do time1.
Já na cama fiquei pensando na punição do técnico, até ontem à noite ele havia sido apenas suspenso por três jogos. Foi impossível não fazer uma comparação e pensar se a punição teria sido a mesma se os ataques verbais tivessem sido raciais e não homofóbicos... Talvez sim, mas o que eu ainda vejo hoje em dia é uma certa permissividade em relação à homofobia. O preconceito racial, apesar de ainda estar longe de ser resolvido, está sendo silenciado através de leis, educação, ações afirmativas... A homofobia ainda não.
Longe de mim querer comparar anos de opressão negra, escravidão, humilhação com a questão homossexual. Mesmo porque, muitos gays se mantém no armário pelo simples fato de poderem manter o status de homem branco no poder (poderia explicar isso com uma música do Caetano, "Americanos"). E por mais opressor que tenha sido e ainda é, muitos gays e lésbicas optaram por simplesmente esconder sua orientação silenciando-se, prática que minorias raciais nunca tiveram como opção. Mas apesar de tais diferenças, acho que há uma pequena possibilidade de comparação aqui: as questões relacionadas às leis e de que maneira tais leis podem ajudar a diminuir a homofobia.
Leis anti-homofobia são fundamentais para que exista uma sociedade mais igualitária. Enquanto acharmos que chamar alguém de gay, veado, sapatão, bicha não tem problema (e não deveria haver problema em alguém ser chamado de veado, o uso de tais palavras como ofensivas é que é o verdadeiro problema) e enquanto tais práticas continuarem a existir nas escolas, nas universidades, nas ruas, ficará mais difícil para que as pessoas se sintam confortáveis para sair do armário e dessa maneira, seguiremos vivendo essa falsa segurança no armário.
Em tempo: hoje na hora do almoço, a universidade liberou uma nota dizendo que após longa consideração havia decidido despedir o técnico.
Precisamos de mais Danielas Mercurys, não só por sair do armário, mas por ser inclusiva, diversa e positiva, menos Bolsonaros, Felicianos, Malafias.... Esses últimos precisam ser neutralizados (eu queria é dizer, silenciados) e para isso precisamos de mais vozes inclusivas.
Ah, sobre o Uruguay. Casamento igualitário aprovado!
1. Nota de rodapé: Basquete e futebol americano têm times universitários que jogam todos os anos em campeonatos nacionais, a importância deles aqui é quase como a de um Brasileirão ou dos campeonatos estaduais. Os jogos passam na TV, são notícia diariamente, não querer acompanhar esses esportes aqui é quase como querer fingir que futebol não existe no Brasil.
segunda-feira, 1 de abril de 2013
Verdades (?) sobre o armário
Talvez uma das grandes verdades sobre o armário é que no fundo, na maioria dos casos - na grande maioria dos casos - todas as pessoas que insistimos em não contar ou esconder, já sabem. Essas pessoas simplesmente se silenciam por respeito, ou por medo de "ofender"...
Ofender é uma palavra muito forte, mas ainda hoje ser chamado de gay, bicha, veado, lésbica é uma ofensa. Muitos se incomodam, inclusive gays e lésbicas. Em aula outro dia, um aluno disse para outro aluno "You don't look gay". Tal frase me incomoda muito pois nela há quase um elogio embutido como se não parecer gay fosse melhor. Quantas vezes nós já não ouvimos algo como "ele é tão bonito, pena que é meio afeminado", ou "não precisa ser tão veado"....
A liberação gay trouxe um preço muito alto para muitas manifestações sexuais, e uma delas foi o preconceito com tod@ aquel@ que não se conformasse ao padrão heterossexista, os gays e lésbicas se heteronormatizaram e para serem aceitos passaram a negar qualquer feminilidade ou masculinidade que pudesse denotar uma orientação sexual fora da norma. Porém, apesar de tanto esforço, a verdade é que as pessoas sabem, as pessoas simplesmente não comentam na nossa frente. E isso é uma violência, um abuso que deixamos sofrer porque temos vergonha de ser quem somos.
Voltando ao meu aluno....
Acho que a minha cara na aula deixou muito claro a minha posição. Os alunos mais antenados fizeram um "ooohhh" e ele ficou meio perplexo. Eu perguntei sobre o sentido da frase e se ele via aquilo como um elogio. De cara, ele disse que não, mas enquanto conversávamos, vimos que, sim, há uma certa noção de elogio em tal frase.
Por que não parecer gay? E na verdade, a pergunta seria "o que é parecer gay"? Baseamos nossas informações por imagens estereotipadas e aquela mulher "masculinizada" (isso tudo é tão problemático) deve ser lésbica, mal-amada ou pior ainda "mal-comida". E o cara que se veste bem e fala fino deve ser veado. E comento isso ainda hoje em 2013! E vejo esse comportamento em muitos dos meus amigos que assumem alguns estereótipos para evitar que as pessoas falem deles, mas o que vejo na verdade, é que eles não "passam" (do verbo to pass, muito usado aqui para essa situação) por héteros como gostariam, as pessoas simplesmente não comentam na frente deles porque ainda hoje ser gay é um problema.
E de qualquer maneira, qualquer opinião será sempre baseada em "achismos", pois até o momento de termos uma declaração performática (adora esse termo), a nossa orientação sexual - pelos outros - será baseada em "achismos".
É preciso que ser gay não seja ofensa. Chamar alguém de gay/ bicha/ veado não pode ser ofensa para que ser gay comece a não ser um incômodo (até para @s própri@s gays e lésbicas) e sim apenas mais uma característica, entre tantas outras, do ser humano.
Eu tenho um amigo a quem amo muito que muitas vezes fica bravo comigo dizendo que transformo tudo em polêmica. Na verdade, o que estou tentando fazer aqui é justamente o contrário: despolemizar a nossa sexualidade. Quero que as pessoas possam chegar em uma sala de aula e comentar sobre o marido, esposa, namorado, namorada seja qual for o sexo (como os professores heterossexuais fazem), quero que as pessoas que trabalhem em escritórios coloquem fotos dos "outros-significantes" na mesa e que isso seja tão normal quanto o que os nossos pais (para aqueles que têm pais heterossexuais) fizeram e fazem.
A minha vontade é despolemizar, é espalhar fotos nas mesas de todos os empregados que querem ter uma relação estável e junto com isso deixar que os que não querem ter uma relação também tenham a liberdade de serem sexualmente livres - héteros, lésbicas, gays, bi...
Eu que sou um romântico incurável só peço espaço para uma fotinho pequena. Uma só.
Ofender é uma palavra muito forte, mas ainda hoje ser chamado de gay, bicha, veado, lésbica é uma ofensa. Muitos se incomodam, inclusive gays e lésbicas. Em aula outro dia, um aluno disse para outro aluno "You don't look gay". Tal frase me incomoda muito pois nela há quase um elogio embutido como se não parecer gay fosse melhor. Quantas vezes nós já não ouvimos algo como "ele é tão bonito, pena que é meio afeminado", ou "não precisa ser tão veado"....
A liberação gay trouxe um preço muito alto para muitas manifestações sexuais, e uma delas foi o preconceito com tod@ aquel@ que não se conformasse ao padrão heterossexista, os gays e lésbicas se heteronormatizaram e para serem aceitos passaram a negar qualquer feminilidade ou masculinidade que pudesse denotar uma orientação sexual fora da norma. Porém, apesar de tanto esforço, a verdade é que as pessoas sabem, as pessoas simplesmente não comentam na nossa frente. E isso é uma violência, um abuso que deixamos sofrer porque temos vergonha de ser quem somos.
Voltando ao meu aluno....
Acho que a minha cara na aula deixou muito claro a minha posição. Os alunos mais antenados fizeram um "ooohhh" e ele ficou meio perplexo. Eu perguntei sobre o sentido da frase e se ele via aquilo como um elogio. De cara, ele disse que não, mas enquanto conversávamos, vimos que, sim, há uma certa noção de elogio em tal frase.
Por que não parecer gay? E na verdade, a pergunta seria "o que é parecer gay"? Baseamos nossas informações por imagens estereotipadas e aquela mulher "masculinizada" (isso tudo é tão problemático) deve ser lésbica, mal-amada ou pior ainda "mal-comida". E o cara que se veste bem e fala fino deve ser veado. E comento isso ainda hoje em 2013! E vejo esse comportamento em muitos dos meus amigos que assumem alguns estereótipos para evitar que as pessoas falem deles, mas o que vejo na verdade, é que eles não "passam" (do verbo to pass, muito usado aqui para essa situação) por héteros como gostariam, as pessoas simplesmente não comentam na frente deles porque ainda hoje ser gay é um problema.
E de qualquer maneira, qualquer opinião será sempre baseada em "achismos", pois até o momento de termos uma declaração performática (adora esse termo), a nossa orientação sexual - pelos outros - será baseada em "achismos".
É preciso que ser gay não seja ofensa. Chamar alguém de gay/ bicha/ veado não pode ser ofensa para que ser gay comece a não ser um incômodo (até para @s própri@s gays e lésbicas) e sim apenas mais uma característica, entre tantas outras, do ser humano.
Eu tenho um amigo a quem amo muito que muitas vezes fica bravo comigo dizendo que transformo tudo em polêmica. Na verdade, o que estou tentando fazer aqui é justamente o contrário: despolemizar a nossa sexualidade. Quero que as pessoas possam chegar em uma sala de aula e comentar sobre o marido, esposa, namorado, namorada seja qual for o sexo (como os professores heterossexuais fazem), quero que as pessoas que trabalhem em escritórios coloquem fotos dos "outros-significantes" na mesa e que isso seja tão normal quanto o que os nossos pais (para aqueles que têm pais heterossexuais) fizeram e fazem.
A minha vontade é despolemizar, é espalhar fotos nas mesas de todos os empregados que querem ter uma relação estável e junto com isso deixar que os que não querem ter uma relação também tenham a liberdade de serem sexualmente livres - héteros, lésbicas, gays, bi...
Eu que sou um romântico incurável só peço espaço para uma fotinho pequena. Uma só.
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