quinta-feira, 21 de março de 2013

Mudança de rumos

Quando eu soltar a minha voz, por favor entenda
Que palavra por palavra eis aqui uma pessoa se entregando
Coração na boca, peito aberto
vou sangrando
São as lutas dessa nossa vida
que eu estou cantando...



Há muitos anos venho querendo ser blogueiro (é essa a palavra?), há muito tempo venho tentando fazer isso com frequência. Já tentei diário, blog com alunos, blog com poemas, blog sobre a minha vida... a última tentativa foi esse blog, sobre NY e a minha vida. Eu, aqui, mais um entre tantos tentando ser Carrie Bradshaw, querendo falar de NY, da vida de um brasileiro aqui... blá, blá, blá, blá....

Mas não sou felizinho o suficiente para amar uma cidade, e muito menos cego o suficiente para fingir que não vejo os problemas. Não consigo falar da cidade porque preciso falar de mim, a cidade acaba sendo apenas um pano de fundo ou como diziam em SATC, a quinta personagem.

Acho a ideia de ser lido genial, gosto de imaginar que pessoas leem o que escrevo e comentam com os outros... Talvez no fundo eu queira mesmo ser cronista. Já tentei escrever romance, conto, poema, mas sempre volto para mim e escrevo sobre mim (ah, essa lua em leão...), até a minha tese é recheada com "Eus". Já pensei em blog de dicas da cidade, mas percebi que minhas dicas não agradam a muita gente....

Já tentei escrever sobre várias coisas, mas acabo sempre parando... sempre deixando de lado porque não consigo dar continuidade, porque não sei o que falar, porque as coisas que faço aqui não são interessantes o suficiente e minhas poesias são bem ruins mesmo.... Talvez, lá no fundo ainda não tinha encontrado minha voz. Até hoje. Acho.

Esses últimos dias foram intensos e uma série de eventos me levaram até esse post. Começo em ordem inversa:

Hoje assisti a uma palestra da Yoani Sánchez (DesdeCuba). Ela escreve sobre Cuba, faz críticas ao governo atual e apresenta um blog interessantíssimo sobre questões da vida na ilha hoje em dia. Claro que não tenho pretensões de atingir o público que ela atinge ou a importância que ela tem (Uma das 100 pessoas mais influentes do mundo na revista Time). Como todo adulto que já foi sonhador, gostaria de escrever sobre um um tema importante para o mundo, algo que movesse multidões - contra ou a favor das minhas palavras - como tem acontecido com Sánchez, mas vivo em um país "diferente" (com todas as críticas que isso permite), vindo de uma outra realidade de nação (de novo, com todas as críticas...). Não sou dissidente, nem exilado, ainda que como muitos da minha geração tenha sonhado com isso... Pois o encontro de hoje de vários blogueiros me fez pensar sobre o que escrever, sobre como escrever e sobre como atingir o público e para qual público quero falar.

Junto com isso, reli o livro de Rafael Bolacha, um apanhado de textos publicados em seu corajoso blog em que ele narra a sua vida como um jovem soropositivo no Brasil (Uma vida positiva). E mais uma vez, me deparei com um impasse.... sobre o que falar....

E voltando um pouco mais no tempo, uns dias atrás, estava em casa tentando escrever a minha tese. PAUSA: Para quem não sabe, escrevo sobre Queer Studies (algo como estudos de sexualidade, pensando na vida LGBT - explico com calma depois). Mas que saibam que estou no departamento de Lesbian, Gay, Bisexual, Transgender and Queer Studies. VOLTANDO: Enquanto não escrevia minha tese, pensava sobre a vida de um jovem gay numa cidade como SP ou NY...

Morando em NY há quatro anos, acabei me distanciando do Brasil e do dia-a-dia da vida gay no meu país. Viver em NY é muito simples, as pessoas se respeitam, o armário praticamente não existe. Andamos de mão-dada na rua e o orgulho gay é tão forte que chegamos ao ponto de ser feio criticar alguém pela sua orientação sexual. Apontar na rua, dar risada de um rapaz com bolsa no braço de grife são ações inimagináveis. Eventos como o do Pastor Feliciano chegam a ser impossíveis nesta cidade - ou até nessa região do país. O prefeito é abertamente a favor do casamento igualitário, tem sempre falado publicamente da importância da população LGBTQ para a cidade, uma das candidatas nas próximas eleições é uma política abertamente lésbica e assim a vida segue. Advogados, médicos, professores, todos amparados pela lei e por uma população abertamente inclusiva (parece o paraíso, né? Bem, pelo menos para andar de mão-dada na rua, é).

Muito bem... porém, com esse distanciamento no coração e a minha pacata vida no trópico de cima acabei me esquecendo que o armário é ainda um elefante branco no Brasil: Final de semana passado eu cruzei com uns brasileiros em um bar e conversando com eles vi tanto medo, tanta dor, tanta vergonha que comecei a pensar sobre a minha vida e a deles e comecei a perceber que a vergonha de serem gays era tão arraigada neles que mesmo aqui, um local em que muitos gays brasileiros vêm para brincarem de serem fora do armário.

Bem, não sou exilado para falar do meu governo, e nem questões tão importantes que me parecem socialmente urgentes, mas tenho esse ponto que para muitos ainda é super importante: Viver a vida sem culpa, sem vergonha e sem medo. Viver a vida tranquilamente, sem fingir que o armário é um problema e que não precisamos falar sobre isso.

Tenho encontrado com muitos homens e mulheres gays, lésbicas, bissexuais... que insistem no armário como uma opção pessoal sem perceber a opressão que isso nos traz e isso acaba me entristecendo, e às vezes enfuriando....

Demorei muito tempo para chegar aqui, não vou parar agora. Pois se tenho que fazer um blog, que seja um blog sobre a vida gay fora do armário, que seja um espaço para falar sobre essa dor que sentimos por não podermos ser quem somos, que seja um grito para os que ainda insistem em viver no armário, que seja um canto para que uns leiam escondido pensando em mudança....

Acho que finalmente encontrei a minha voz. Que saia essa voz...





P.S. Talvez precise mudar o nome do blog, as cores... sei lá... me ajudem com isso.

P.S. 2. Será que preciso de uma "catch phrase" que todo mundo me reconheça?