segunda-feira, 1 de abril de 2013

Verdades (?) sobre o armário

Talvez uma das grandes verdades sobre o armário é que no fundo, na maioria dos casos - na grande maioria dos casos - todas as pessoas que insistimos em não contar ou esconder, já sabem. Essas pessoas simplesmente se silenciam por respeito, ou por medo de "ofender"...

Ofender é uma palavra muito forte, mas ainda hoje ser chamado de gay, bicha, veado, lésbica é uma ofensa. Muitos se incomodam, inclusive gays e lésbicas. Em aula outro dia, um aluno disse para outro aluno "You don't look gay". Tal frase me incomoda muito pois nela há quase um elogio embutido como se não parecer gay fosse melhor. Quantas vezes nós já não ouvimos algo como "ele é tão bonito, pena que é meio afeminado", ou "não precisa ser tão veado"....

A liberação gay trouxe um preço muito alto para muitas manifestações sexuais, e uma delas foi o preconceito com tod@ aquel@ que não se conformasse ao padrão heterossexista, os gays e lésbicas se heteronormatizaram e para serem aceitos passaram a negar qualquer feminilidade ou masculinidade que pudesse denotar uma orientação sexual fora da norma. Porém, apesar de tanto esforço, a verdade é que as pessoas sabem, as pessoas simplesmente não comentam na nossa frente. E isso é uma violência, um abuso que deixamos sofrer porque temos vergonha de ser quem somos.

Voltando ao meu aluno....

Acho que a minha cara na aula deixou muito claro a minha posição. Os alunos mais antenados fizeram um "ooohhh" e ele ficou meio perplexo. Eu perguntei sobre o sentido da frase e se ele via aquilo como um elogio. De cara, ele disse que não, mas enquanto conversávamos, vimos que, sim, há uma certa noção de elogio em tal frase.

Por que não parecer gay? E na verdade, a pergunta seria "o que é parecer gay"? Baseamos nossas informações por imagens estereotipadas e aquela mulher "masculinizada" (isso tudo é tão problemático) deve ser lésbica, mal-amada ou pior ainda "mal-comida". E o cara que se veste bem e fala fino deve ser veado.  E comento isso ainda hoje em 2013!  E vejo esse comportamento em muitos dos meus amigos que assumem alguns estereótipos para evitar que as pessoas falem deles, mas o que vejo na verdade, é que eles não "passam" (do verbo to pass, muito usado aqui para essa situação) por héteros como gostariam, as pessoas simplesmente não comentam na frente deles porque ainda hoje ser gay é um problema.

E de qualquer maneira, qualquer opinião será sempre baseada em "achismos", pois até o momento de termos uma declaração performática (adora esse termo), a nossa orientação sexual - pelos outros - será baseada em "achismos".

É preciso que ser gay não seja ofensa. Chamar alguém de gay/ bicha/ veado não pode ser ofensa para que ser gay comece a não ser um incômodo (até para @s própri@s gays e lésbicas) e sim apenas mais uma característica, entre tantas outras, do ser humano.

Eu tenho um amigo a quem amo muito que muitas vezes fica bravo comigo dizendo que transformo tudo em polêmica. Na verdade, o que estou tentando fazer aqui é justamente o contrário: despolemizar a nossa sexualidade. Quero que as pessoas possam chegar em uma sala de aula e comentar sobre o marido, esposa, namorado, namorada seja qual for o sexo (como os professores heterossexuais fazem), quero que as pessoas que trabalhem em escritórios coloquem fotos dos "outros-significantes" na mesa e que isso seja tão normal quanto o que os nossos pais (para aqueles que têm pais heterossexuais) fizeram e fazem.

A minha vontade é despolemizar, é espalhar fotos nas mesas de todos os empregados que querem ter uma relação estável e junto com isso deixar que os que não querem ter uma relação também tenham a liberdade de serem sexualmente livres - héteros, lésbicas, gays, bi...

Eu que sou um romântico incurável só peço espaço para uma fotinho pequena. Uma só.

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