quinta-feira, 6 de agosto de 2015

As fotos que escondem o armário

Uma das grandes verdades sobre o armário que fingimos não perceber é que na maioria dos casos - na grande maioria dos casos - as pessoas sabem sobre a nossa orientação sexual. Simplesmente não comentam porque elas acham que somos nós que temos problemas com a nossa sexualidade. E infelizmente, elas estão certas.

Amigos heterossexuais, pensem em todos os amigos gays e lésbicas que vocês têm e que vivem no armário. Vocês sabem, não? Não falam nada, não? Por quê?

Nós vivemos nessa mentira porque nos conforta e porque no fundo queremos até passar por heterossexuais (vou falar sobre isso também um desses dias).

Essa semana eu postei sobre a "união das escovas de dentes" minha e do meu namorado, agora 'partner'! E me lembrei de alguns amigos em São Paulo que insistem em se esconder por detrás das suas agonias. Eu conheço muita gente que transformou a vida online em segmento da vida real. Faz check-in, posta foto, comenta, faz tudo... mas se mantém em silêncio sobre a vida afetiva (veja: vida afetiva, não sexual). Um conhecido em São Paulo me disse, "mas isso é minha vida pessoal".

Pois ainda caímos na mesma desculpa entre vida pessoal e vida pública. Vida pessoal no instagram, no twitter, no facebook, em todos os sites de social media? Um outro conhecido viaja o mundo com seu namorado, os dois postam fotos das viagens, mas nunca juntos. É como se viajassem constantemente sozinhos. Só quem vê as fotos sabe que há um outro alguém por detrás daquelas câmeras (sorry, iphones, gente fina tira foto de iphone, não pela câmera).
Isso me parece uma agressão. Uma pessoa que tem tanto prazer em postar tudo, com certeza, sofre por não postar sobre o seu relacionamento....

Essa desculpa de vida privada não cola mais hoje em dia. Se uma pessoa posta cada check-in que faz, é preciso refletir sobre os limites do medo, e de como essa pessoa ainda está no armário. Eu tenho brigado muito sobre esses medos.

Não posso ter medo ou vergonha de dizer que estou morando afetivamente com um outro indivíduo. Essa parte da minha vida é tão importante quanto as fotos dos casamentos de todos os meus amigos e familiares. Pessoalmente, não pretendo me casar, mas quero que as pessoas saibam que tenho alguém. Não quero situações constrangedoras em que todos sabem, mas ninguém fala. O elefante cor-de-rosa desaparece e passamos a mostrar às pessoas que afetividade não tem gênero, idade, sexo, identidade ou orientação.

Eu sempre pergunto para esses amigos que se escondem. Se você estivesse casado com uma mulher (ou homem para as lésbicas) você postaria fotos? A resposta: Silêncio....
A verdade é que vida pessoal vale para todos. Há heterossexuais que não postam nada, há LGBTs que não postam nada e gente que divide muito. Minha pergunta é simples, se você é desses que divide tudo porque não fala do seu relacionamento? Eu te digo: armário!

Falar sobre isso é o que me faz político. Insistir que ser feliz é ser simples, é não ter medo. Talvez tenha gente que ache que eu exagere, não sei. Eu me acho discreto no quesito vida online, mas saber que as pessoas sabem que minha vida afetiva é plena e feliz é importante para mim. Saber que LGBTs vivem de maneira tão diversa como os heterossexuais é parte da nossa busca política. Tem gente que casa, gente que vive junto, gente que tem amante, gente que não transa, gente que casa e não transa, gente que só transa e nunca casou.... e isso vale para tod@s sem distinção de identidade ou orientação sexual.

Como dizia um amigo, eu sou um monogâmico feliz, por que esconder?

Vamos pensar sobre isso, gente.... O que nos impede de postar fotos ao lado do namorad@?
















Nenhum comentário:

Postar um comentário